sexta-feira, dezembro 05, 2008

A musicalidade na mulher - Arthur Dazzani

Sempre que a maioria dos homens relaciona música à mulher vem logo à tona a lembrança do popular violão. A analogia é feita em função da semelhança curvilínea entre os corpos: ambos divididos pela cintura, e cada qual com a sua sutileza.

Não me esquivo dos apontadores varões que defendem a cultura do corpo esbelto (e recheado de curvas) como estímulo masculino. Até confesso que, em última análise, é no mínimo um bom colírio. Mas ele em si mesmo tem tradução simplória e vida curta. O próprio Vinícius de Moraes, nosso eterno poeta (dentre tantos outros atributos), descreveu a sua “receita de mulher”, estabelecendo medidas que se enquadravam no seu modelo caricatural feminino. Mas seguramente Vinícius foi mais um apreciador da alma, do espírito e dos detalhes dessas criaturas enigmáticas do que um formulador de conceitos físicos.

A mulher precisa ser lembrada e cultuada pelo que há de musical na sua essência. Mais pelo que insinua do que pelo que expõe. Ela não pode ser explícita! A sua delicadeza é composta de semitons intercalados, com ritmos próprios e um compasso de espera. Além de notas de tons maiores e dissonantes (apenas na aparência), ela tanto pode ser lida em clave de Fá quanto de Sol. Mas jamais decifrada! Ela é (e deve permanecer sendo) um eterno enigma!

Comparar a mulher a um violão é pensar numa orquestra de um instrumento só. A mulher é muito mais ampla. Ora é violino, doce e fino, ora é um celo, forte e imponente. Metais e Cordas se misturam nessa indecifrável sinfonia. Muitas vezes ela passa despercebida, como o oboé ou o baixo, mas que são indispensáveis ao conjunto da obra. Noutras tantas ela é o piano de cauda, charmoso e elegante. Mas é preciso ter certeza, a absoluta certeza de que elas são invariavelmente o maestro. São as regentes dessa orquestra, que nos emprestam as batutas para que possamos desfrutar da harmonia que desfila pelos vossos sentidos e nossos corações.

Ultimamente tenho pensado na mulher como notas musicais. Afinal de contas, não adiantaria tantos instrumentos reunidos se não pudessem ser tocados. E que bom que elas nos permitem tocá-las. Mas precisamos saber fazê-lo com a devida cautela e cuidado, com o devido respeito e acuidade, com muita calma. E, sobretudo, com a alma (de mãos fortes e sutis).

Os músicos e os não leigos sabem que o acorde é composto por uma tríade. Nos últimos dias meus ouvidos ficaram mais sensíveis (o dono deles também), e passaram a escutar a beleza de três belas notas musicais, que juntas têm alegrado o meu espírito e preenchido os meus espaços. Um som limpo, que veio do nada, surgido no frescor da noite, e sussurrou baixinho: MI, RÉ, LÁ (aumentado)!

Ah! Que acorde lindo!

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